Noite Escura

Durante muito tempo estive dormindo.
Quase toda a viagem. 
Mas quando passamos por cima de uma pedra,
acordei.
Foi naquele instante que olhei para o cocheiro.
Ele segurava firmemente as rédeas dos cavalos.
Ele usava um sobretudo negro, com um capuz
que não permitia ver o seu rosto.
Temi aquele rosto.
Eu sabia o que era o cocheiro.
Era muito mais cômodo continuar no meu lugar.
Afinal a viagem prosseguia sem problemas.
Porém, alguém na estrada pediu carona.
Passamos reto, mas eu não me contive,
pedi para retornarmos.
Ela nos alcançou,
subiu na carroceria, ali permaneceu.
Seguimos viagem,
sua presença me incomodava.
Talvez fosse curiosidade ou medo.
Pouco a pouco, o cocheiro foi dando mais velocidade ao carro,
os cavalos relinchavam alto,
as rédeas levantavam alto e acertavam o lombo deles.
A angústia foi me tomando,
eu não via motivo para o cocheiro agir daquela forma.
A estrada estava vazia.
Percebi que teria de fazer algo.
Quando ao longe avistei a ponte.
Se fosse uma ponte velha
como parecia, ela não suportaria a nossa passagem.
Mas como fazer algo?
Eu temia o cocheiro,
pois ele era tudo o que eu temia ser.
Percebi que eu deveria tomar as rédeas.
Pedir a ele não adiantaria
Ele estava cada vez maior e não me ouviria.
Eu  sempre soube que ele estava fora de mim.
Era preciso tomar as rédeas do meu carro.

Talvez Cont.

Sara.


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