Asas.

*Quando nasci um anjo torto desses que aparecem nos sonhos me disse:
Voa Sara, Voa!
No mesmo instante  eu lhe perguntei: Como posso voar se não tenho asas?
Constrói Sara, cria tuas asas e voa. 
E se foi.
Eu não posso explicar as escolhas que fiz.
Mas se não eu, quem poderá em meu lugar?
Eu sou o que aparento ser ou o que penso que sou?
Sempre terei medo de ser o que sou?
Existir plenamente, saltar para o meu voo?
Segui o conselho do anjo e estou construindo minhas asas.
Não é tarefa fácil. Exige determinação.
O que eu sou hoje é resultado do meu passado.
Sempre que olho para o meu caminho, sinto medo.
E se eu saltar e cair, então morrerei?
Talvez sim, talvez não. Um dia terás de saltar,
seja para a vida, seja a morte.
Às vezes me canso de refletir.
Queria interromper meu sofrimento.
Às vezes no silêncio da noite,
me sinto em pleno voo
e desejo cair,
Então de súbito abro meus olhos
e escondo minhas asas.
Adormeço escutando meus sonhos
voarem de mim.
Esqueço as palavras que me cercam,
mergulho no sono em completa confusão.


Sara.


*Poema de Sete faces-

Carlos Drummond de Andrade


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